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Disgrafia: O que é e Sintomas

Por:
Dra. Paola Matiko Martins Okuda

Por: Dra. Paola Matiko Martins Okuda

Teraputa Ocupacional – CREFITO-3 10675/TO

Doutora em Ciências pela UNIFESP.

Especialista em desenvolvimento motor e problemas motores nos transtornos de aprendizagem e de atenção.

Com as escolas retornando gradualmente à suas atividades regulares, uma das questões mais importantes é a aquisição da escrita, mas diante de um cenário onde os estimulos adequados e direcionados necessários para tal não puderam ser ofertados de maneira adequada, surge uma grande questão: SERÁ QUE É DISGRAFIA?

Por isso, nesse artigo, vamos falar mais sobre a o que é, quais os seus sintomas e como buscar o tratamento adequado para que seu filho possa lidar com essa doença.

O que é a Disgrafia?

De acordo com o DSM – V (APA, 2014) a disgrafia é um transtorno específico de aprendizagem com prejuízo na expressão escrita, caracterizada por alteração funcional no componente motor do ato de escrever que afeta a qualidade da escrita caligráfica e, presença de caligrafia deficitária no traçado e forma das letras, surgindo estas de forma irregular e disforme.

A disgrafia resulta em habilidades de escrita abaixo do esperado para a idade, relacionada a falta de equilíbrio entre a qualidade da formação da letra (alinhamento e espaçamento de letras e palavras, dimensionamento das letras, entre outras) e a taxa de produção (velocidade da escrita caligráfica).

Sendo a escrita caligráfica uma atividade complexa que envolve simultaneamente habilidades percepto-motoras (controle motor fino, integração visuo-motora, planejamento motor, propriocepção, percepção visual, percepção sinestésica, entre outros) e processos cognitivos (capacidade de decodificação das palavras, atenção sustentada, flexibilização, entre outros) , podendo impactar no desempenho acadêmico e psicossocial; interferir nas relações pessoais;  interferir na autoestima; e ser preditora de dificuldades de aprendizagem, entender a DISGRAFIA ajudará na identificação precoce do problema, para direcionar o encaminhamento eficaz e a intervenção assertiva.

É importante ressaltar que a criança com Disgrafia possui o desenvolvimento intelectual normal. O que o problema traz é a dificuldade ou incapacidade de escrever de acordo com o “padrão” exigido em nossa sociedade, como em salas de aulas e ambientes de trabalho, prejudicando os estudos e o desenvolvimento.

Diferença Disgrafia x Disortografia

Tanto a disgrafia quanto a disortografia são transtornos específicos de aprendizagem com prejuízo na expressão escrita, entretanto, existem diferenças claras entre ambos, e na presença dos diagnósticos, descrições detalhadas dos sintomas devem ser realizadas, como aponta o DSM-V.

De forma breve e simplificada, a DISGRAFIA é um problema percepto-motor na formação da letra e números, já  a DISORTOGRAFIA está associada à organização de palavras, frases e textos (mais informações sobre disortografia vide referencias abaixo).

Sinais/Sintomas da Disgrafia

Os sinais disgrafia podem ser notados principalmente na escola, pois a escrita é uma tarefa acadêmica necessária para as crianças em período escolar, sendo que de 30 a 60% do tempo do dia, a escola realiza tarefas motoras finas, consistindo principalmente de caligrafía (Cardoso, 2017).

Dentre os sinais/sintomas da disgrafia observáveis em casa e na escola que ajudam a identificar o problema, podemos citar:

  • Dificuldade para escrever;
  • Letra ilegível, e não “letra feia”, até para a criança que escreve;
  • Escrita com junção de letras maiúsculas e minúsculas;
  • Dificuldade em diferenciar letras maiúsculas e minúsculas;
  • Dificuldade em realizar a letra cursiva, misturando letras cursivas e bastão em palavras e frases;
  • A escrita é muito “junta” ou incompleta; ou com um afastamento desnecessário entre as letras e palavras;
  • Não consegue utilizar as linhas da folha do caderno para organizar as palavras;
  • Incapacidade ou demora para acompanhar e copiar as informações escritas no quadro durante as aulas;
  • Lentidão para escrever.

Sinais e Sintomas observáveis nas crianças durantes as tarefas que envolvem escrita:

  • Reclamação contante e persistente no inicio, durante e depois da tarefa;
  • Briga para concluir a tarefa;
  • Reclama de dores no braço;
  • Fica exausto quando termina;
  • Se dispersa facilmente para fugir da tarefa;
  • Começa a não gostar de ir para a escola.

O que fazer quando observar esses sinais e sintomas?

Na presença dos sinais e sintomas acima, devemos considerar:

Diagnóstico Disgrafia

Por se tratar de um diagnóstico complexo, o médico necessita de avaliações específicas realizadas pelos profissionais da  fonoaudiologia e da terapia ocupacional.

Porquê esses profissionais?

O profissional da fonoaudiologia é responsável pela avaliação do processo de decodificação das letras e palavras, habilidade necessária para a aquisição da leitura e que antecede e é necessária para a aquisição da escrita. Além de identificar a presença de outros transtornos específicos de aprendizagem que podem co-ocorrer com a disgrafia (RESOLUÇÃO CFFa nº 387, de 18 de setembro de 2010).

Oprofissional da terapiaa ocupacional é o responsável por avaliar e intervir em habilidades que interferem no desempenho em contextos de ocupação humana, como a escola. Além disso, é o profissional que avalia o desempenho em habilidades motoras, a integração viso-motora, a percepção sinestésica, e destreza, velocidade e coordenação bimanual  (RESOLUÇÃO Nº 500, DE 26 DE DEZEMBRO DE 2018).

Tratamento da Disgrafia

O tratamento deve passar pelas pessoas envolvidas na educação da criança (pais e professores) e também um profissional capaz de auxiliar na melhora da capacidade motora fina e integração viso-motora.

Vale ressaltar que as avaliações específicas são essenciais para direcionar o plano de intervenção individualizado que melhor atenda às necessidades da criança.

É importante também tomar cuidado com a frustração e decepção por exercícios que vão além da capacidade da criança, por isso o acompanhamento por profissionais especializados é de extrema importância!

Aqui estão algumas sugestões de atividades gerais, elaboradas por mim e algumas colegas (vide referências abaixo) que podem auxiliar qualquer criança com dificuldades em escrita caligrafica:

  • Executar movimentos independentes dos dedos, das mãos e dos punhos, deslocando no espaço os objetos: andar com dedos, imitar elefante, imitação, fazer sombra, manipular marionete, brincar com areia, entre outras;
  • Fazer todos os padrões de preensão e poder passar um mesmo objeto de um tipo de preensão para outro: abrir com chave-rosquear-deslizar objeto entre os dedos, entre outras;
  • Conseguir ajustar e adaptar as mãos e os dedos à forma, à consistência e à orientação dos objetos: empalmar partes do rosto, empalmar objetos diferentes;
  • Deslizar a mão ou um objeto sobre uma superfície: esfregar, riscar, varrer, fazer a exploração tátil de um objeto, pintura com dedo, brincar de passar ferro, desenhar com o dedo sobre o espelho, entre outras;
  • Pressionar, apalpar ou procurar moldar um objeto: massinha de modelar, argila, colagem, apertar botões, entre outros;
  • Realizar movimentos que permitam deslocar e orientar um objeto para ser depositado sobre outro: transportar um ovo na colher, correr com balde cheio de água, enfiar contas, entre outros;
  • Fazer movimentos de rotação dos objetos utilizando-se essencialmente dos movimentos dos dedos e punhos: enrolar um fio, parafusar com uma chave de parafuso, abrir maçaneta, enroscar a tampa de objetos cilíndricos, rodar objetos, enrolar tiras de papel, enroscar um parafuso numa porca, rodar objetos entre os dedos, entre outros;
  • Combinar os movimentos das mãos com os outros segmentos dos braços: exercícios de mímica e imitação, fazer construção com blocos, movimentar uma roda ou manivela, entre outras;
  • Praticar ações em que se utilizam as duas mãos: rasgar, picar, torcer pano, dobradura, dar laço, abotoar, entre outras;
  • Executar ações instrumentais: usar tesoura, garfo, martelo, pinça, alicate, entre outros;
  • Através dos dedos polegar e indicador, em forma de pinça, alinhar vários pinos;
  • Realizar rabiscos, da esquerda para a direita e de baixo para cima, em folhas grande, média e pequenas, através do giz de cera em forma de ¨tijolinho¨; e posteriormente, com o gizão de cera + espátula (para o trabalho de pinça) , com movimentos amplos e depois mais curtos para dissociação da articulação do ombro;
  • Realizar círculos em sentido anti-horário, com gizão + espátula, para dissociação dos dedos polegar e indicador; Posteriormente, em sentido horário;
  • Ligar pontos para formar desenhos ou cópias de desenhos: exercícios em que se ligam pontos e se reproduzem padrões visuais apresentados como modelo e outros exercícios de colocação de objetos, alternando a ordem.
  • Reforçar as linhas dos cadernos para ajudar a visualização de cada uma e a marcação de parágrafos.
  • Recorrer a atividades que criem distorções de proporção e profundidade, como recorte de figuras de com uma cor e colagem em uma folha de outra cor (vermelho e branco; preto e laranja), formando sombras.
  • Circuitos de exercícios que demandem habilidades motoras e percepto-visuais, como correr uma distância ultrapassando obstáculos (pular, rastejar), pegar uma bola e acertar um alvo em um determinado tempo, por exemplo;
  • Atividades com recorte, colagem, jogos de encaixe, jogos de construção e manipulação, modelação, picotagem.
  • Exercícios que facilitem a concentração nos estímulos e a identificação das qualidades de forma, tamanho e cor. A criança tanto pode distinguir objetos misturados, como classificar objetos da vida diária, destacar pormenores dos objetos, ver figuras específicas que estão sobrepostas a outras em fundos complexos, etc.
  • Realizar os movimentos junto com a criança para que tenha a sensação do movimento e a visualização da ação.

Cosiderações importantes:

O diagnóstico final de transtorno específico de aprendizagem com prejuízo na expressão escrita é de competências do MÉDICO.

A descrição das habilidades alteradas na presença do quadro de disgrafia dependem das avaliações específicas da FONOAUDIOLOGIA e da TERAPIA OCUPACIONALl.

TODOS os envolvidas na educação da criança são igualmente responsáveis pelo encaminhamento e acompanhameto de sua evolução.

Em caso de dúvida, procura um profissional ESPECIALIZADO!

Referências sugeridas:

American Psychiatric Association. (2014). DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora.

Okuda, P. M. M., Pinheiro, F. H., Germano, G. D., Padula, N. A. D. M. R., Lourencetti, M. D., Santos, L. C. A. D., & Capellini, S. A. (2011). Função motora fina, sensorial e perceptiva de escolares com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade. Jornal da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, 23(4), 351-357.

Fusco, N., Okuda, P. M. M., & Capellini, S. A. (2011). Avaliação e intervenção com a habilidade visomotora em escolares com dislexia e distúrbio de aprendizagem. Tópicos em transtornos de aprendizagem. São Paulo: Pulso, 79-89.

Fukuda, M. T. M., & Okuda, P. M. M. (2010). Avaliação e Intervenção na disgrafia. Capellini AS, Germano GD, Cunha VL, organizadores. Transtornos de aprendizagem e transtornos da atenção (da avaliação à intervenção). São José dos Campos: Pulso Editorial, 91-103.

Cardoso, M. H., & Capellin, S. A. (2017). Speed and legibility: Brazilian students performance in a thematic writing task. Handwriting: Recognition, Development and Analysis, 333-343.

Cardoso, M. H. . Estratégias Percepto-viso-motoras para dificuldades com a escrita manual. In: Chiaramonte, TC; Liporaci, GFS; Capellini, SA. (Org.). Manual de Estratégias para Dificuldades e Transtornos de Atenção, Leitura, Escrita Ortográfica e Caligráfica. 1ed.Ribeirão Preto: Booktoy, 2019, v. 1, p. 175-188.

Mousinho, R., & Navas, A. L. (2016). Mudanças apontadas no DSM-5 em relação aos transtornos específicos de aprendizagem em leitura e escrita. Rev Deb Psiq, 6(3), 38-45.

Nicolau, A. A. (2013). Apropriação da ortografia por escolares do 3o ao 5o ano do ensino fundamental.

Meneses, E. A. (2020). As Dificuldades Permanentes de Aprendizagem Escrita: Disgrafia e Disortografia. Revista Psicologia & Saberes, 9(19), 33-47.

RESOLUÇÃO CFFa nº 387, de 18 de setembro de 2010. https://www.fonosp.org.br/fonoaudiologia. Acesso em: 19/02/2021.

RESOLUÇÃO Nº 500, DE 26 DE DEZEMBRO DE 2018. https://www.coffito.gov.br/nsite/?p=10488. Acesso em: 19/02/2021.

Sites sugeridos:

http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/leia/reportagens-artigos/reportagens/15211-transtornos-de-escrita-disgrafia-e-disortografia

https://www.centrosei.pt/blog/disgrafia-o-que-e-o-que-fazer

www.educamais.com/disgrafia/

depoimentos

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